quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Legião Urbana (O Descobrimento Do Brasil)




Passados três anos sem material inédito, a Legião Urbana voltaria aos estúdios em agosto de 1993 para registrar um novo disco. Renato estava “limpo”. A nova fase em sua vida pessoal também coincidia com o fim da era Collor. Mais uma vez, o futuro brasileiro recomeçava. E como a esperança sempre foi uma arma da Legião, ela reaparecia neste trabalho, ainda que muitas vezes fosse mais propriamente um recurso de sobrevivência do que uma fonte espontânea de alegria. Mesmo quando cantava “Esperança, teus lençóis têm cheiro de doença”, percebe-se que ela seguia viva, ainda que infectada.
Como num movimento de resposta ao álbum anterior, O Descobrimento do Brasil trazia, em sua maioria, canções mais simples, com arranjos menos soturnos. Era um disco mais pop. Em alguns momentos, as guitarras voltavam a ter mais peso e as levadas da bateria eram mais aceleradas. Neste disco, o rock é mais elaborado do que o punk do primeiro LP e menos barroco do que os arranjos de “As Quatro Estações”.
O Descobrimento do Brasil foi o álbum em que a banda conseguiu chegar a um meio termo tanto musical quanto de discurso. Se os arranjos se alternavam das baladas e temas instrumentais ao hard rock, o mesmo se percebia nas letras que tratavam tanto das relações na esfera pública quanto na particular. Desde “Vamos celebrar a estupidez humana/ a estupidez de todas as nações/ o meu país e sua corja de assassinos/ covardes, estupradores e ladrões” até “E hoje em dia, como é que se diz eu te amo?”. Apesar dessas duas vertentes líricas aparecerem bem representadas no álbum, a partir de “As Quatro Estações” Renato demonstrava não ter mais dúvidas sobre em qual delas estava seu caminho. “O sistema é mau/ mas minha turma é legal” era a síntese do que ele buscava pra sua vida.
E mais uma vez,, ele se revelava por inteiro aos fãs através de suas palavras. Desde o fim abrupto da turnê de “V”, ele decidira se cuidar e tentar salvar o que ainda estava a seu alcance. A dependência química era exorcizada em faixas como “Vinte e nove “ e “Só por hoje”. Já o vírus HIV e a sombra da morte eram os nós contra o quais não havia cura. Só restava a resignação de “Love in the afternoon”. Até mesmo os fins das relações pessoais já era visto com um pouco menos de inconformismo e mais serenidade, como em “Giz” e “Vamos fazer um filme”. Mas outras, como a revoltada “Do espírito”, mostram que nem só de serenidade poderia se ouvir um Renato Russo.


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